CONFIANÇA OLÍMPICA


Era manhã, e eu, entretido a ler e abstraído do Mundo, observava aquela calma inesperada. Digo inesperado porque o meu neto, de nome Santiago, um jovem alegre e activo costumava estar nos “pulos” pela casa. Mas hoje, isso era excepção e essa calma que costumava ser tão desejada, hoje, causava um desalento tão grande que decidi inspeccionar o que se passava.
Deitado na sua cama, Santiago observava o infinito e como não encontrava o seu fim, mostrava agora uma cara triste, cabisbaixa e derrotado.
- Que se passa Santiago? – Perguntei
- Nada avô. É uma coisa lá da escola. – Respondeu.
- E que coisa é essa? – Perguntei, já curioso.
- Amanhã vão começar as provas de Educação Física e vou participar numa corrida à volta do estádio, – explicou – estou apenas um pouco triste porque o meu professor elegeu o meu colega Carlos como o melhor atleta e agora sinto-me derrotado, inseguro e sem confiança.
- A confiança é a chave para a vitória – disse, tentando encorajá-lo.
- Não acredito nisso – disse ele.
- Então vou ajudar-te … Ora ouve com atenção: Há muito tempo atrás na Grécia passavam-se momentos de grande euforia pois iam começar os Jogos … os Jogos Olímpicos.
Os Jogos Olímpicos decorriam no Santuário de Zeus em Olímpia que era feito de mármore cristalizado situado na região ocidental de Peloponeso, a cerca de quinze quilómetros do Mar Jónio. Os Jogos Olímpicos realizavam-se de 4 em 4 anos, pelo que este momento era já esperado há muito tempo, por muitos atletas.
Um desses atletas era Fídias que como a maior parte dos atletas era oriundo de classes mais favorecidas e tinha iniciado no desporto desde tenra idade. Os atletas não vinham apenas da Grécia Continental, mas de todos os pontos do Mundo Grego que na Antiguidade incluía as colónias espalhadas pelas costas do Mediterrâneo e do Mar Negro. Os vencedores eram alvo da homenagem da sua cidade: poderiam receber alimentação gratuita, terem estátuas erguidas em sua honra e serem cantados pelos poetas.
Por tudo isto ambicionava Fídias que desde cedo tinha sido iniciado na prática da sua modalidade: corridas pedestres. As corridas pedestres incluíam quatro tipos de corridas, sendo uma delas a prova de Fídias: o estádio. O estádio era a prova mais antiga e de maior prestígio, já que o seu vencedor daria o seu nome aos jogos. A prova consistia numa corrida de 192 metros, o comprimento do estádio. Fídias estava entusiasmado, mas também muito inseguro:
- Não ganharei a prova Mestre – disse a seu pai – Péricles, esse sim será o vencedor.
- Péricles? – Perguntou o seu pai.
- Sim, ontem quando passeava pela praça ouvi o seu nome. Não se falava de mais nenhum homem sem ser ele – explicou Fídias.
- A confiança é a chave para a vitória – disse o pai, tentando encorajá-lo.
Mas Fídias não acreditava nisso. Embora fosse um atleta com grandes possibilidades para ganhar, a insegurança vencia-o.
Os Jogos Olímpicos eram supervisionados por juízes, os helanócides (Juízes dos Helenos). Estes juízes eram oriundos do seio da nobreza da Elide, sendo escolhidos à sorte dez meses antes do início do festival.
Durante os últimos 2 dias, Fídias preparou-se arduamente. Pediu a todos os deuses, não para que ganhasse, mas para que ficasse classificado num lugar de respeito, visto que acreditava que quem ganharia seria Péricles. Péricles era na realidade um dos atletas mais falados como possível vencedor.
Finalmente chegou o terceiro e mais aguardado dia dos Jogos: o dia da Prova.
De manhã realizou-se uma procissão formada por todos os atletas, juízes e embaixadores das poléis gregas pelo Áltis. A procissão parou em frente ao Grande Altar de Zeus onde se realiza o sacrifício de 100 bois pelo povo da Elide.
Durante a tarde seria o tempo da prova. Fídias preparava-se quando chegou seu pai:
- Preparado para a vitória? – Perguntou
- Não ganharei mas esforçar-me-ei – respondeu Fídias.
- Lembra-te que a confiança é a chave para a vitória – lembrou o pai
Chamaram os atletas para a pista. Do lado direito de Fídias estava Péricles.
- Boa sorte – disse Fídias
- Que ganhe o melhor atleta – disse Péricles, com um sorriso atrevido.
A corrida começou. Rapidamente, Péricles colocou-se em primeiro lugar, seguido de outro atleta e um pouco mais atrás: Fídias. No pensamento de Fídias só ocorria a derrota. Péricles ganharia e seu pai e todos os Deuses ficariam desiludidos. Seria uma desgraça. Foi então que Fídias se lembrou: “A Confiança é a Chave para a Vitória”. Por fim, percebeu que a felicidade é feita por nós e não pelos outros e que se acreditarmos em nós próprios mais ninguém precisa de acreditar. Então, seguiu o seu coração e quando deu por si tinha a seu lado Péricles. Correram, durante algum tempo, lado a lado, até que Fídias ultrapassou Péricles e saiu vitorioso. No momento de glória, Fídias abraçou seu pai e gritou: A Confiança é a Chave da Vitória!
- Percebes agora? – Perguntei a meu neto Santiago.
- Sim avô. Devemos acreditar em nós próprios e não no que os outros dizem. A Confiança é a Chave para a Vitória!
De seguida abraçou-me e começou a cantar e a correr pela sala.
Era manhã, e os raios de sol iluminavam a sala, onde eu entretido a ler e abstraído do Mundo, observava aquela falta de silêncio ao ouvir a felicidade de criança tão reconfortante.



Inês Rocha (Primeiro prémio na categoria do 7ºAno)